02/04/2025
Busca por mais flexibilidade pode ser um dos principais motivos pelo fechamento de capital do Cencosud e Carrefour no Brasil
POR Barbara Fernandes
EM 21/03/2025

Foto: SA+ Ecossistema de Varejo
O Cencosud anunciou o fechamento do seu capital no Brasil em janeiro deste ano. De forma semelhante, o Grupo Carrefour comunicou ao mercado por meio de um Fato Relevante a intenção de realizar a mesma operação futuramente para “focar exclusivamente nas operações principais e contribuir ainda mais na estratégia do Grupo de continuar a oferecer retorno superior aos acionistas.”
Para Silvye Massaini, docente do curso de Administração da ESPM, os principais fatores que tem motivado as empresas a essa decisão são:
- A rigidez e o custo elevado da legislação trabalhista
- O ambiente político incerto e regulatório volátil
- Os impactos negativos das taxas de juros elevadas sobre o financiamento
- Os custos operacionais da empresa
A especialista também aponta a necessidade de aumentar a agilidade e eficiência operacional para competir de forma mais robusta no mercado varejista como um incentivo para o fechamento.
No caso específico do Carrefour, Silvye avalia que “a mudança parece não ser apenas uma reação aos problemas pontuais, mas uma decisão estratégica de longo prazo para melhor posicionar a empresa no cenário competitivo e dinâmico do varejo alimentar brasileiro.”
Silvye Massaini, docente do curso de Administração da ESPM. Foto: Divulgação
Segundo a docente há ainda dois fatores que impulsionam o fechamento de capital no País para além das questões macroeconômicas. A primeira é a redução de custos de conformidade. “Eliminar a necessidade de cumprir com as inúmeras exigências de divulgação e regulação que acompanham as companhias abertas pode representar uma redução significativa dos custos administrativos e legais”, explica Silvye.
Já a segunda é a flexibilidade na gestão, uma vez que com o fechamento a empresa pode adotar mudanças e tomar decisões estratégicas de forma mais rápida e assertiva, sem a interferência de pressões de curto prazo do mercado financeiro.
Leonardo Cyreno, head de Eficiência Comercial e Crescimento da AGR Consultores, concorda e acrescenta que o movimento também reduz a visibilidade dos concorrentes em relação às suas estratégias, tornando-as menos expostas. “A redução de custos relacionados à governança corporativa, auditorias e compliance também pode ser um fator relevante. O Carrefour, por exemplo, pode estar buscando uma estrutura mais enxuta para responder rapidamente às dinâmicas do varejo alimentar brasileiro, que vem enfrentando desafios como a inflação e a mudança nos hábitos de consumo.”
Leonardo Cyreno, head de Eficiência Comercial e Crescimento da AGR Consultores. Foto: Divulgação
Essa movimentação também reverbera na dinâmica concorrencial do setor. De acordo com Cyreno, empresas de capital fechado podem ter mais flexibilidade para realizar investimentos de longo prazo, ajustar precificação e redesenhar suas operações sem a pressão constante do mercado de capitais. “Isso pode torná-las mais competitivas frente a concorrentes de capital aberto, que precisam equilibrar crescimento e satisfação dos acionistas”, comenta o executivo. “No entanto, também existe o risco de redução da transparência e menor atratividade para investidores institucionais no setor.”
Silvye concorda, e afirma que “a ausência de informações contínuas ao mercado pode modificar a percepção dos investidores e, por consequência, alterar as estratégias de precificação, internacionalização ou diversificação das demais empresas do setor.” Algo que, segundo ela, pode gerar um cenário competitivo menos baseado na pressão do mercado e mais orientado por estratégias de médio a longo prazo.
Porém a docente da ESPM também destaca o lado positivo da movimentação. “As empresas que saem do ambiente dos investidores públicos podem ter mais liberdade para realizar investimentos em iniciativas de eficiência, inovação e expansão, o que pode intensificar a concorrência com os players que permanecem listados”.
Com menos transparência nas suas estratégias, os concorrentes perdem um importante ponto de comparação e análise, o que pode gerar impactos na tomada de decisão do setor como um todo. Ambos os especialistas concordam que isso possivelmente irá incentivar uma reavaliação de outros players sobre suas próprias estruturas de capital.
“Algumas podem considerar seguir o mesmo caminho para obter maior flexibilidade e reduzir custos. Outras podem enxergar uma oportunidade para captar investidores que antes estavam alocados no Carrefour e no Cencosud. Além disso, concorrentes podem ajustar suas estratégias operacionais em resposta a possíveis mudanças na atuação das empresas que fecharam o capital”, discorre Cyreno.
Para Silvye a movimentação também pode corroborar para o aprimoramento na Governança das empresas que permanecem listadas.
O que atrai as empresas para abrirem seu capital no Brasil
Em momentos de crescimento econômico, o mercado de capitais pode oferecer condições favoráveis para financiar a expansão das operações e ganho de market share. “Além disso, estar na bolsa pode trazer maior visibilidade e credibilidade para a empresa, atraindo novos investidores e parceiros comerciais”, analisa o head de Eficiência Comercial e Crescimento da AGR Consultores.
Sylvie acrescenta que os principais atrativos para abrir seu capital no País são as oportunidades de crescimento no mercado de capitais, a valorização e visibilidade da marca diante do mercado consumidor, o aprimoramento nos níveis de Governança e a facilitação de operações de M&A, o que aprimora as negociações estratégicas.
Há possibilidade de as empresas voltarem atrás?
Apesar dos especialistas concordarem que há possibilidade das empresas que fecharam ou pretendem fechar o capital no Brasil voltarem atrás, isso é pouco provável.
“Diversos fatores podem levar uma companhia a reconsiderar seu status de capital fechado: melhora no contexto econômico e político, atração de novos investidores no longo prazo e ajustes na Governança Corporativa”, explica Sylvie. “Caso as empresas consigam criar processos internos que conciliam agilidade decisória com as exigências dos mercados de capitais, o equilíbrio entre os benefícios do capital aberto e as operações estratégicas pode ser reavaliado”, complementa.
Contudo, Cyreno reforça que dado ao esforço e os custos envolvidos no processo de fechamento de capital as chances do Cencosud e do Carrefour (caso realmente dê início ao processo) voltarem atrás é pequena. “Se houver um ambiente econômico mais estável, com menor volatilidade no mercado financeiro e uma regulação mais favorável, pode fazer sentido retomar a captação de recursos via bolsa de valores. Ainda assim, a decisão de reabrir o capital dependeria de uma análise estratégica profunda e de necessidades específicas de financiamento.”
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Barbara Fernandes
Repórter