14/11/2025
Varejo entra no último trimestre com novo padrão de consumo se estabelecendo
POR Gabrielly Mendes
EM 14/11/2025

Foto: Adobe Stock
A queda de -3,6% nas vendas do varejo alimentar em outubro, apontada pelo Radar Scanntech, não pode ser lida como um movimento isolado. O dado sintetiza a convergência de três forças que vêm redesenhando a lógica de consumo ao longo de 2025: temperaturas mais amenas, inflação persistente e menor propensão ao gasto em um ambiente de crédito restrito.
Juntas, essas variáveis reorganizam prioridades dentro da cesta e evidenciam uma tendência de racionalização não apenas conjuntural, mas possivelmente estrutural. Ao mesmo tempo, o recuo de -2,6% no fluxo de consumidores nas lojas reforça que a retração não está restrita ao tíquete médio. Há menos visitas e, quando acontecem, o consumidor opera com maior disciplina: ajusta volumes, prioriza básicos e reduz compras impulsivas.
Bebidas e indulgências concentram 90% da queda
Do total da retração em unidades, 90% está concentrada em dois grupos: itens ligados ao calor e indulgências. A sobreposição, porém, esconde dinâmicas diferentes:
Em bebidas, o impacto climático é imediato e mensurável. A temperatura 0,4°C mais baixa em relação a outubro de 2024 teve efeito claro sobre categorias sensíveis ao calor. Cerveja (-16,3%) e refrigerantes (-4,3%), que juntas representam 76% do volume das bebidas, puxaram a queda.
Esse é um caso típico em que a elasticidade climática se manifesta de forma rápida: com menos calor, a necessidade de reposição diminui, e o consumo deixa de ser rotineiro para se tornar episódico.
Há ainda um segundo vetor conjuntural: o aumento de casos de intoxicação por metanol na Região Metropolitana de São Paulo. Na última semana do mês, as vendas de gin, vodca e uísque chegaram a recuar até 40% na região, e 26% no consolidado nacional.
A combinação de clima frio e perda de confiança reduziu tanto o consumo casual quanto o experimental.
Por isso, a soma desses fatores indica que a cesta de bebidas está particularmente exposta a fluxos externos, o que aumenta a volatilidade da categoria.
Em indulgências, a queda sugere rearranjo de prioridades e avanço da saudabilidade. No caso da categoria, responsável por 20% da queda total, o movimento é diferente. Aqui, os dados refletem menos o ambiente externo e mais uma reconfiguração da jornada alimentar.
Principais perdas:
• Chocolate: -10,6% (e foi o item com maior alta de preços: +18,6%)
• Biscoitos: -6,4%
• Balas e pirulitos: -4,1%
• Snacks: -2,2%
A retração não se distribui de forma uniforme. O chocolate, categoria de maior valor agregado, recua mais intensamente, ao mesmo tempo em que aumenta de preço.
Há evidências de que o consumidor está:
1. Reduzindo o consumo por impulso
2. Substituindo volume por qualidade, dado o avanço de categorias premium
3. Migrando parte da indulgência para produtos funcionais, especialmente proteicos
Para o varejo e a indústria, o desafio é traduzir esse conjunto de sinais em decisões operacionais e estratégicas.
A recomposição da cesta exige:
1. Ajuste fino de mix, sobretudo em bebidas e indulgências
2. Revisão da elasticidade de preço por categoria, dado o impacto direto no volume
3. Promoções direcionadas, considerando que o shopper está mais seletivo
4. Monitoramento integrado de comportamento, fluxo e clima, para antecipar movimentos de curto prazo
Mais do que reagir à queda, o setor precisa entender o tipo de compra que está emergindo: disciplinada, menos volumosa e mais funcional. É esse padrão que tende a se consolidar nos próximos ciclos, e não apenas os resultados pontuais de outubro.
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Gabrielly Mendes
Repórter








