31/10/2025
Quem está “roubando” as vendas do varejo alimentar?
POR Barbara Fernandes
EM 31/10/2025

Foto: Adobe Stock
Para além da inflação, o varejo alimentar enfrenta hoje uma confluência de forças que estão reduzindo o volume das compras e redirecionando os gastos. Nessa análise exploramos 4 deles: remédios emagrecedores, bets, lojas especializadas e marketplaces. Veja abaixo!
 
1) Os GLP-1 (Ozempic, Wegovy, Mounjaro): menos apetite,
menos compras impulsivas
Uma pesquisa da SC Johnson College of Business identificou queda média de 5% a 6% nos gastos com supermercado entre usuários de medicamentos à base de GLP-1, com impacto ainda maior em ultraprocessados, como chips (-10%). No Brasil, o movimento se repete, atingindo inclusive bebidas alcoólicas. Com menor apetite, o volume de compras diminui, e o alto custo do tratamento faz com que parte dos consumidores reduza gastos no carrinho para financiar o remédio. Por enquanto, o efeito é mais visível entre as classes A e B, mas a quebra de patente prevista para 2026 deve baratear o produto, ampliar o acesso e potencialmente intensificar a queda no volume das vendas.
 
2) Apostas online: realocação de orçamento das classes C e D
 
Segundo a Kantar, no 2º tri de 2025, 13% do orçamento que seria destinado a produtos de alimentação e bebidas foi para apostas online. Já um levantamento da SBVC e do banco de investimentos Genial indicam que 19% das pessoas já deixaram de comprar itens em supermercados para apostar. O impacto é ainda mais exacerbado entre as famílias de menor renda. De acordo com o Instituto Locomotiva, 66% da população que tem o hábito participa de apostas mensalmente. Outra pesquisa, da Varejo 360, também revelou um dado crítico: 52% dos apostadores afirmaram ter os gastos essenciais afetados pelas “bets”.
 
3) Suplementação e lojas especializadas: a venda perdida pela ausência
A saudabilidade tem impulsionado novas categorias, como a de suplementos, mas muitos supermercados ainda não oferecem esses itens. Por isso, lojas especializadas capturam parte do gasto que poderia ser do varejo alimentar. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Scanntech revelou que em 2024 os supermercados que oferecem esses itens registram um aumento de 40% no faturamento da categoria, enquanto o volume de vendas subiu 18%. A tendência é confirmada por dados da Minds & Hearts, empresa da HSR Specialist Researchers, que mostram que 92% dos brasileiros estão abertos ao uso de suplementos.
 
4) Marketplaces e o novo varejo de conveniência: preço, velocidade e alcance
Plataformas como Mercado Livre, Amazon, Shopee e TikTok Shop reconfiguram a jornada de compra, atraindo os consumidores com conveniência e descontos. Em 2024, o Mercado Livre registrou aumento de 77% nas vendas de itens de supermercado. Já a Shopee registrou aumento de 47% na venda de ovos de Páscoa em 2025. A Amazon não fica para trás, com o lançamento do Amazon Mercado, nova seção dedicada a alimentos, bebidas e itens de limpeza e higiene, com diversas opções de desconto e entrega. Mais recentemente houve também a entrada do TikTok Shop que, apesar de ainda não vender alimentos, já está capturando parte das vendas de HiBe com promoções relâmpago.
 
O que o varejo pode fazer na prática
 
- Rever
     sortimento e criar ofertas para o público em uso de GLP-1
 Investir em porções menores, produtos proteicos, itens frescos, refeições prontas e snacks funcionais que dialoguem com dietas que provocam a redução no apetite. Além de explorar comunicação e curadoria voltadas à saúde e conveniência.
 
 
- Fortalecer
     value-for-money para públicos sensíveis à renda
 Programas de fidelidade mais inteligentes, combos econômicos, marcas próprias bem-posicionadas e ofertas assertivas podem mitigar a migração de gasto para apostas, especialmente nas classes C e D.
 
 
- Apostar
     em categorias emergentes e nichadas
 Incluir suplementos, vitaminas, snacks proteicos e bebidas funcionais no mix, com exposição adequada e orientação ao shopper, para impedir que esse consumo migre para lojas especializadas.
 
 
- Integrar
     o físico ao digital para competir com marketplaces
 Expansão de pick-up, entrega rápida, assinatura de cestas e personalização de ofertas. O importante aqui é ganhar escala na operação digital e reforçar conveniência sem perder margem.
 
 
- Construir
     experiência e serviço, não só preço
 Degustações, espaços para alimentação rápida, conteúdos e serviços (como nutrição, receitas, curadoria de saudabilidade e workshops) aumentam fidelidade e frequência.
 
 
- Monitorar
     hábitos emergentes e ajustar KPIs
 Incorporar indicadores de gasto alternativo (como apostas) e mudanças de consumo alimentar para calibrar sortimento, comunicação e promoções por região e perfil socioeconômico.
 
 
A verdade é que não existe um “ladrão” de fato nessa história. Assim como em outros momentos, fatores externos estão moldando a forma com que as lojas precisam se posicionar. Apesar dessas questões agravarem a queda no volume de vendas e relevância dos supermercados no cotidiano do consumidor, elas também incentivam uma transformação para que o varejo alimentar seja um centro de soluções, e não apenas um ponto de reposição. E no fim a mensagem é clara: quem reagir rápido pode converter essas “ameaças” em oportunidades.
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Barbara Fernandes
Repórter









