Foto: Adobe Stock

Imagine uma consumidora que entra no supermercado com a intenção de fazer apenas a compra do mês. Ao pagar no caixa, utiliza o aplicativo do próprio varejista, garante desconto imediato e ainda parcela parte da compra no cartão da rede, com um limite que não teria em um banco tradicional.

Na semana seguinte, ela volta ao mesmo estabelecimento para aproveitar o cashback acumulado. Aos poucos, aquele supermercado deixa de ser apenas um ponto de abastecimento e passa a concentrar boa parte de suas decisões financeiras do dia a dia.

A situação é hipotética, mas reflete os resultados de uma pesquisa da Celcoin, empresa especializada em infraestrutura de tecnologia financeira, sobre a transformação dos supermercados em plataformas financeiras.

O levantamento aponta que 70% dos consumidores brasileiros consideram a oferta de serviços financeiros um fator relevante na escolha de onde fazer compras. Os dados indicam que esse movimento já está em curso.

Segundo o estudo, 53% dos entrevistados participam de algum programa financeiro oferecido pelos supermercados que frequentam.

Entre os serviços mais utilizados estão os aplicativos para pagamentos digitais (90%), seguidos pelos cartões de crédito próprios das redes (60%). Cashback e descontos exclusivos aparecem na sequência, ambos com 15% de adesão.

Quando o recorte passa da utilização para a atratividade, os descontos lideram as preferências (60%), enquanto 30% apontam o limite de crédito como principal benefício.

A pesquisa mostra, no entanto, que renda influencia essa percepção. Consumidores com renda de até três salários mínimos tendem a valorizar mais o acesso ao crédito, com 43% citando o limite como fator decisivo, contra 33% que priorizam descontos.

Já entre aqueles com rendimentos mais altos, os descontos aparecem como principal atrativo para 58%, superando a importância do limite de crédito.

O estudo também revela quem está conseguindo avançar com mais força nesse território. Guanabara e Carrefour se destacam na emissão de cartões próprios, citados por 32% e 16% dos entrevistados, respectivamente.

No total, 10,5% afirmam utilizar cartões de crédito de supermercados e, desse grupo, 58,3% dizem usar o produto também fora das lojas emissoras, o que indica uma ampliação do papel dessas redes na rotina financeira dos consumidores.

O impacto no comportamento de compra aparece de forma direta. Após aderir aos serviços financeiros oferecidos pelos supermercados, 44,4% dos consumidores aumentaram seus gastos no estabelecimento e o mesmo percentual passou a visitar as lojas com maior frequência.

Para o varejo alimentar, o dado sugere que a oferta de soluções financeiras vai além da conveniência e se conecta à fidelização e ao aumento de participação no orçamento do consumidor.

Desafio para o setor

Nesse cenário, o desafio para os supermercados não é apenas lançar cartões ou aplicativos, mas integrar essas ferramentas à estratégia de relacionamento com o cliente.

A pesquisa indica que quem conseguir alinhar serviços financeiros, benefícios percebidos e conhecimento do perfil de renda tende a transformar a loja física em um hub de consumo e serviços, com impacto direto no tíquete médio e na recorrência das compras.