Pressão sobre custos de produção deverá ser menor

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Fernanda Vasconcelos -

Cenário previsto por analistas para os principais insumos tende a ser de arrefecimento em relação a anos anteriores, mas ainda há algumas incertezas. Entenda


Foto: Stock Adobe


Nos últimos dois anos, a indústria foi pressionada pela escassez de matéria-prima e aumento de custos, causados pela pandemia de Covid-19 e posteriormente pela guerra na Ucrânia. Embora os dois eventos continuem sem solução definitiva, 2023 tende a ser um ano de arrefecimento dessas despesas. Isso porque grandes economias, como China e EUA, estão passando por uma recessão, que já causou queda nos preços-base de importantes commodities agrícolas, energéticas e metálicas. 

“Com o menor consumo nesses países, as empresas brasileiras tendem a perder receita com exportação e a se voltarem para o mercado interno. A maior oferta deve diminuir os preços por aqui. Não falo só de alimentos, mas principalmente deles”, afirma Matheus Peçanha, economista do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getúlio Vargas.

O petróleo, que baliza o preço dos combustíveis em todo o mundo, caiu 29% desde o pico de alta em 8 de junho de 2022, quando chegou a R$ 120,89. Grãos como soja e milho recuaram, respectivamente, 14% e 14,6% também entre junho e dezembro. “A Opep [Organização dos Países Produtores de Petróleo] tentou segurar a cotação restringindo a oferta, mas mesmo assim o preço do fóssil ficou em patamar mais baixo. Isso tende a diminuir os custos de transporte em todo o mundo”, explica Peçanha. 

Ele ressalta ainda que uma mudança na guerra ou um avanço da Covid-19 podem mudar o cenário, mas não há indicações no momento. No mercado interno, o que pode impactar os custos de transporte é a política de oneração dos combustíveis pelo novo governo Lula. “Ainda é uma incógnita como isso será feito, em que medida e quais serão as decisões da Petrobras, mas vejo nesse item a maior pressão de custos para 2023”, avalia Peçanha.

O Ibre prevê uma inflação neste ano entre 5,2% e 5,3%, enquanto a expectativa de crescimento do País é pequena, entre 0,5% e 1%. No caso específico dos alimentos, a queda na cotação dos grãos tende a contribuir para um menor preço de biocombustíveis, feitos de milho e cana no País, mas principalmente no valor das proteínas. A ração para animais responde por 70% dos custos de produção de frango e suínos e até 40% no caso da produção de leite.  

Mas a economia na China é que dará o tom real do mercado. “Se eles aumentarem o volume de compras, o preço internacional sobe, assim como no mercado interno, pressionando o varejo e o consumidor”, afirma João Pedro Baptistini, analista da consultoria StoneX .

Ainda no mercado interno, a recomposição na safra de milho em 2022, depois de uma quebra no ano anterior, também pode ajudar nos preços. Ocorre, porém, que a indústria pecuária teve suas margens muito apertadas nos últimos anos e pode tentar recompô-las, como comenta Baptistini. 

Segundo cálculos da StoneX, os pecuaristas tinham uma margem de lucro de R$ 1,56 por arroba de boi no início de 2021, que caiu para um prejuízo de R$ 0,05 no fim do mesmo ano. Em 2022, as coisas melhoraram, e a margem está agora em R$ 0,50, mas ainda distante do desejo da indústria.  “Houve menor recomposição de animais devido a essas margens menores e podemos ter neste ano uma menor oferta de bois.

Por outro lado, a disponibilidade de grãos para ração é grande, então é uma conta que tende a indicar uma estabilidade nos preços”, afirma Baptistini. “O que precisamos acompanhar é o poder de compra do brasileiro, a renda e a inflação para saber se a indústria poderá recompor as margens pré-pandemia.” 

Em outros produtos alimentícios, a esperança também é de menor custo de produção com a área agrícola tendo mais fertilizantes disponíveis, após a paralisação temporária de oferta da Rússia, o maior fornecedor global do insumo. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) prevê que o setor agro tenha um crescimento de 2,2% em 2022, com R$ 1,3 trilhão de receita. As principais cadeias que influenciam esse valor são soja, carne bovina e milho, que compõem muito dos insumos da indústria doméstica de alimentação. 

Para a produção brasileira de grãos e fibras, a expectativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é de um crescimento de 15% na produção, com 313 milhões de toneladas. Para outros itens, como embalagens, a tendência é de recuperação na disponibilidade em 2023. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) informou no ano passado que 22 dos 25 setores industriais acompanhados pela entidade sentiram falta de matérias-primas e que agora estão tendo maior disponibilidade. 

Entretanto, a entidade lembra que incertezas sobre o controle de despesas públicas, a condução da política fiscal e as questões tributárias, todas sem direcionamento por enquanto, poderão impactar a indústria. 

Para todos os analistas, a taxa Selic deve se manter elevada neste ano, o que influencia o crédito para consumo, custeio e investimento. A planilha da indústria, portanto, está cheia de brechas que poderão mudar os próximos meses. 

 

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