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As operações de fusões e aquisições (M&A) têm se intensificado no varejo alimentar brasileiro nos últimos anos. Mudanças no ambiente econômico e social, como o aumento da concorrência, as dificuldades de sucessão familiar e o cenário de juros elevados, têm levado muitos empresários a considerar a venda de suas redes como estratégia.

Ao mesmo tempo, grupos compradores vêm apostando nesse tipo de movimento como forma de expandir sua atuação no setor.

De acordo com consultorias especializadas que atuam em transações no varejo, um dos principais fatores que levam donos de supermercados a vender seus negócios está relacionado à sucessão. Muitos fundadores têm encontrado obstáculos para preparar as próximas gerações da família para assumir o comando das empresas, o que acaba resultando na decisão de alienar os ativos.

A pressão competitiva também é citada como um dos elementos centrais nesse processo. A última década foi marcada pela rápida expansão de formatos diversos de loja, como atacarejos, mercados de vizinhança e unidades compactas, o que aumentou significativamente a disputa por consumidores em áreas onde o crescimento populacional não acompanha o ritmo da abertura de novas unidades.

Outro ponto de destaque é o nível de endividamento de parte das empresas do setor. Segundo interlocutores do mercado, muitos varejistas tradicionais contrataram financiamentos em 2020 e 2021, quando as taxas de juros estavam mais baixas.

Como boa parte dessas dívidas foi firmada em condições pós-fixadas, a elevação dos juros nos últimos anos tornou os compromissos financeiros mais pesados, dificultando a sustentabilidade dos empreendimentos e, em alguns casos, forçando a venda dos ativos.

Há ainda empresários que, diante da instabilidade do setor e da pressão sobre as margens, decidiram abandonar o funcionamento do supermercado e manter apenas a posse dos imóveis, alugando os pontos comerciais para redes maiores.

A decisão, segundo especialistas, pode garantir rendimentos equivalentes aos obtidos com o negócio, mas com menor exposição a riscos e custos.

Além desses fatores, o movimento de consolidação do setor tem incentivado os empresários a aproveitar o momento de valorização dos ativos para negociar suas lojas.

Embora o volume de operações de M&A tenha crescido, o índice de concentração do varejo alimentar brasileiro continua relativamente baixo em comparação com mercados internacionais, o que sugere espaço para novas transações.

Do outro lado da mesa

Para os grupos compradores, a aquisição de redes ou unidades isoladas tem se mostrado uma alternativa estratégica para acelerar o crescimento. No entanto, especialistas alertam para riscos comuns, como falta de alinhamento estratégico, avaliações imprecisas, processos de due diligence superficiais e dificuldades na integração cultural e de sistemas.

Entre os principais erros apontados estão:

• Falta de clareza na estratégia: empresas que entram em processos de M&A sem metas definidas podem realizar aquisições que não geram valor;

• Avaliação inadequada da empresa-alvo: tanto a supervalorização quanto a subavaliação podem comprometer o retorno esperado;

• Due diligence insuficiente: a negligência de aspectos legais, fiscais, operacionais e culturais pode acarretar problemas pós-aquisição;

• Apostar demais em sinergias projetadas: metas irreais de economia ou ganho operacional tendem a gerar frustrações;

• Ignorar diferenças culturais: choques entre equipes podem afetar a motivação e elevar a rotatividade;

• Integração mal planejada: especialmente no que diz respeito à integração de dados e sistemas, considerada uma das principais barreiras pós-aquisição.

Na contramão, os negócios bem-sucedidos costumam ter como base o alinhamento estratégico claro, avaliações rigorosas e planejamento estruturado.

Iniciativas como due diligence detalhada, programas de integração com recursos definidos e atenção à cultura organizacional são apontadas como fatores que aumentam as chances de sucesso e maximizam o retorno sobre o investimento.

Fonte: Fusões e Aquisições