Como 4 varejistas estão lidando com o apagão de profissionais de tecnologia

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Por Sheila Hissa -

O déficit de profissionais de tecnologia, já elevado, será ainda maior daqui a 5 anos. Entidade prevê que faltarão 532 mil profissionais, pois o país forma apenas 53 mil por ano. O que fazer?

Foto: Muffato Go, supermercado 100% automatizado (Divulgação)

Desenvolvedores, analistas de dados, designers, especialistas em consumer experience e inteligência artificial, entre muitos outros, estão em falta no mercado e ainda estarão por muito tempo, segundo a Brasscom, associação que reúne empresas de tecnologia digital, de informação e comunicação.

A entidade, outras instituições e escolas avaliam como correr contra o déficit, enquanto empresas criam suas próprias alternativas. Para as redes a seguir, as tecnologias são essenciais para reduzir custos, aumentar margem, melhorar atendimento ao consumidor e viabilizar novos negócios. Saiba como elas estão lidando com o problema da escassez de mão de obra na área tecnológica. 

Grupo Muffato (PR)

A falta de mão de obra especializada também não paralisa a companhia, que tem 89 lojas, entre supermercados e atacarejos. Ao contrário. Desde a introdução pioneira dos self-chekouts, a empresa já tomou inúmeras iniciativas com equipe própria e, principalmente, com empresas que desenvolvem tecnologias customizadas, mais baratas do que as encontradas no exterior.

Um exemplo é a primeira loja autônoma – Muffato Go –, que levou três anos para ser lançada e foi inaugurada em Curitiba há menos de 2 meses. A empresa importou as câmeras de visão computacional, porém contou com fornecedores locais para desenvolver prateleiras com sensores, etiquetas inteligentes (atualizadas por meio de wi-fi) e refrigeradores, também com sensorização.

Outro exemplo é o Muffato Labs, laboratório tecnológico, que há pouco tempo firmou acordo com a RenovRetail, empresa especializada em soluções. O foco é desenvolver inteligência artificial (IA), análises preditivas, machine learning e check-list digital gerenciando automaticamente atividades da loja e do sistema de PDV. O próximo projeto é ter uma loja do formato gourmet como balcão de testes para aperfeiçoar a experiência de compras do consumidor e otimizar os processos de gestão da empresa.

Rede Hirota (SP)

Há um ano, a empresa contratou um profissional de mercado para estruturar a área de TI. Marcio Akamine, experiente executivo de tecnologia na indústria, construção civil e no mercado financeiro, passou a liderar os talentos da própria casa, estudantes de diferentes segmentos tecnológicos. Eles já estavam presentes na empresa, mas basicamente para dar suporte aos diversos departamentos.  

Akamine transformou a TI em um setor estratégico e segmentou o setor em três blocos: desenvolvimento de novos produtos, infraestrutura e apoio, governança e segurança. Todos abastecidos por soluções do mercado. “Não inventamos a roda. Adquirimos produtos de ponta, já formatados para o varejo ou de fácil adaptação, que reduzem tempo de desenvolvimento, erros e custos. Essa opção nos protege também do déficit de especialistas e nos permite treinar a equipe no modelo comprado”, diz o diretor.

Para as 104 lojas autônomas, a rede adquiriu um sistema de reconhecimento facial e um de monitoramento por inteligência artificial. O sistema foi instalado em 20 lojas e, assim que alcançar todas as unidades, deverá reduzir o índice de quebra (movido principalmente por furtos) de 6% para 3%. A empresa também vai implantar inteligência artificial nas lojas autônomas sem self-checkout. A tecnologia, desenvolvida por uma startup portuguesa, deverá aumentar produtividade e reduzir ainda mais os custos.

Outro investimento está sendo feito na comunicação de dados. O analista do Hirota extrai as informações de cada departamento, lança num sistema adquirido no mercado e outra empresa desenvolve os dash boards, que são relatórios para análise. Eles permitirão a cada área acompanhar os dados de seu interesse, como volume de vendas, precificação, campanha de marketing, abastecimento de prateleiras, etc. Tudo isso vai agilizar as decisões, fazer correções e garantir maior eficiência na cadeia.

Além das lojas autonômas, a Hirota conta com 18 supermercados e 23 supermercados Express.

Rede Super Bom (RJ)

A rede fluminense, do Grupo Barcelos, avança em seu processo de transformação digital de duas maneiras. Estabeleceu parceiras para compra ou desenvolvimento de produtos e criou em casa ferramentas sob medida para o negócio. Lucas Barcelos, CFO da companhia, conta que recruta jovens recém-formados em áreas tecnológicas, tanto fora quanto dentro da empresa. Eles passam por um treinamento rigoroso, aos cuidados de uma empresa especializada. Percorrem todos os setores da varejista para conhecer profundamente o negócio e os processos internos. Também trabalham com suporte, análises e desenvolvimento de soluções.

“A empresa identificou as necessidades tecnológicas para redução de custos, melhoria na análise dos resultados e na comunicação com o cliente. Já a equipe de desenvolvedores se debruça sobre essas necessidades para criar soluções”, explica Lucas. A equipe vem trabalhando, por exemplo, em sistemas que garantem cruzamento assertivo dos dados e maior eficiência na produção de relatórios.

O CFO explica, no entanto, que não basta gente qualificada para criar ferramentas. É igualmente importante engajar os usuários. A rede treina as lideranças da companhia para ter constância na consulta dos relatórios e, assim, agir rapidamente nas correções. O esforço é fazer as pessoas incorporarem os relatórios à sua rotina. “Neste momento, os desenvolvedores estão criando linguagem robótica para fechamento fiscal, precificação e processo de compras e, ao final, partirão para outros projetos,” diz Lucas.

Supernosso (MG)

“A demanda por talentos em tecnologia deu um salto em relação à oferta, mas isso não é o fim da linha, é o começo”, diz Vinicius Aroeira, diretor de finanças, processos e tecnologia da varejista, que hoje tem 51 unidades de varejo, além de 20 lojas de atacarejo sob a marca Apoio.

O Grupo já pulou várias casas no processo de formação de equipe e de transformação digital. Conta com 200 profissionais, que foram conquistados por adequação da empresa ao modelo de trabalho que eles defendem. “Aceitamos, por exemplo, o home office ou o modelo híbrido, e criamos mecanismos para conectar esses profissionais ao negócio”, explica Vinícius.

Um exemplo são os eventos online e presenciais para apresentar desafios, gaps, projetos e metas da companhia. “Explicamos por que estamos trabalhando em determinado aplicativo e o papel da ferramenta no desdobramento da nossa estratégia”, comenta o executivo.

O Supernosso realiza também o Dia D de Tecnologia presencial, que tem palestra de abertura do presidente, o empresário Euler Nejm, e fechamento do vice-presidente, Rodolfo Nejm, para que os profissionais se sintam valorizados e parte da empresa. É um encontro mais descontraído para interação da equipe com seus interlocutores e clientes internos.

O recrutamento e seleção do pessoal é outro capítulo. A maioria dos profissionais não tem curso de formação, mas apresenta conhecimento e experiência na área de atuação. “Avaliamos o currículo e principalmente o perfil. Queremos pessoas com mentalidade aberta, criativas, solucionadoras de problemas e com boa capacidade de trabalho em equipe”, detalha Vincíus.

Outro ponto é o trabalho em squads (do inglês esquadrão ou célula). Os profissionais atuam em projetos, como de infraestrutura, entrega rápida ou programa de fidelidade. Hoje, são 20 grupos em andamento. “Temos células fixas como as de precificação, logística, abastecimento, além de outras rotativas ou temporárias”, explica o diretor. “Temos squads para soluções de ruptura ou de criação de novas fontes de receita. Todas têm seus objetivos, indicadores e metas”, acrescenta. Para o executivo, o mergulho na transformação tecnológica é sempre possível, haja abundância ou falta de especialistas.

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