10/12/2025
Dia afirma que não há alteração na condução das operações, abastecimento das lojas ou em qualquer relação com parceiros, fornecedores e clientes
POR Reportagem SA+ Conteúdo
EM 09/12/2025

Foto: Divulgação
Em recuperação judicial há mais de um ano, o supermercado Dia recebeu R$ 20 milhões referentes à aplicação de R$ 163,3 milhões que mantinha em um CDB do Letsbank, integrante do conglomerado do Banco Master. O valor corresponde a cerca de 12% do total aplicado. A rede tinha pelo menos 70% de seu caixa vinculado a esse investimento.
Em nota, o Dia informou que todas as informações financeiras são divulgadas exclusivamente pelos canais oficiais da Administração Judicial. Qualquer informação além desta está protegida por sigilo bancário. "Reforçamos que estamos cumprindo 100% todas as obrigações previstas no processo de Recuperação Judicial, e que não há qualquer alteração na condução das operações, no abastecimento das lojas ou em qualquer relação com parceiros, fornecedores e clientes", explicou o comunicado.
Segundo apuração da imprensa, no dia 22 de outubro, semanas antes da liquidação do Banco Master pelo Banco Central, o Dia firmou acordo com o Letsbank para reaver o montante aplicado. O acerto previa pagamento imediato de R$ 20 milhões, além de R$ 50 milhões em 2026, distribuídos em dez parcelas mensais corrigidas por 109% do CDI. Para completar o valor, o banco cedeu um precatório federal de R$ 116 milhões em valor de face.
Com a liquidação extrajudicial decretada em 18 de novembro, o cumprimento das parcelas previstas para 2026 tornou-se incerto. O acordo está sob análise do liquidante nomeado pelo BC.
À administradora judicial do processo, o Dia informou “aguardar o relatório do liquidante nomeado pelo Banco Central com a relação dos credores e devedores da instituição, para eventuais providências”.
Segundo o relatório mais recente da administração judicial, a companhia contabilizou receita financeira de R$ 23,3 milhões relacionada ao resgate do investimento, considerando o valor recebido, o saldo a receber e o montante do precatório.
Precatório não reforça a liquidez
Os R$ 93,3 milhões restantes do acordo foram quitados por meio do precatório federal. Embora o valor de face seja de R$ 116 milhões, o título não representa disponibilidade imediata nem liquidez para capital de giro.
Precatórios dependem de fluxo orçamentário, decisões judiciais e disponibilidade fiscal da União, sem previsão de pagamento. Se o Dia optar por vender o título no mercado secundário, deve enfrentar deságios entre 30% e 60% do valor de face.
A administradora judicial afirmou que o ativo deverá passar por teste de recuperabilidade, pois o valor real a recuperar “pode ser significativamente inferior” ao registrado.
Parte do acordo entre Dia e Letsbank permanece sob sigilo judicial, o que impede análise completa do título.
Consumo de caixa aumenta e operação mantém desempenho frágil
O relatório judicial mostra deterioração da liquidez do Dia anterior à liquidação do Banco Master. A administradora classificou o momento como de “risco relevante”. Em outubro, a empresa consumiu R$ 42 milhões, direcionados principalmente ao pagamento de credores e investimentos.
A rede registra hoje 240 lojas, menos da metade das cerca de 500 unidades existentes antes da recuperação judicial, com receita mensal de R$ 159,3 milhões.
A crise ocorre um ano e meio após o início da recuperação judicial, decretada em março de 2024, quando a empresa acumulava mais de R$ 1 bilhão em dívidas. Dois meses após o pedido, a controladora espanhola vendeu a operação brasileira por 100 euros a um fundo gerido pela Trustee, com participação do empresário Nelson Tanure.
Para viabilizar a transação, aportou 40 milhões de euros no caixa do Dia. A expectativa era que o reforço financeiro desse fôlego para recompor estoques e renegociar dívidas. No entanto, o relatório aponta continuidade da queima de caixa, com maior dependência da conversão de créditos tributários.
Outras empresas também enfrentam perdas com o Master
A liquidação do Banco Master afetou outros grupos com aplicações no Letsbank. A Oncoclínicas renegociou valores antes da intervenção e, após a liquidação, executou garantias e assumiu ações do controlador do banco na operadora de saúde.
A Emae, vendida recentemente à Sabesp, também mantinha cerca de R$ 140 milhões em títulos do Letsbank, sem previsão de recuperação. Em todos os casos, o limite de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos — até R$ 250 mil por CNPJ — não compensa perdas de companhias com valores multimilionários investidos.
Fonte: InvestNews
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