19/09/2025
5 tendências dos anos 1990 que não se concretizaram no varejo alimentar
POR Alessandra Morita
EM 19/09/2025

Adobe Stock
O varejo alimentar é resiliente? As redes regionais brasileiras são capazes de responder rapidamente aos movimentos dos gigantes? O dinamismo do setor é capaz de mudar tendências? A resposta é sim, sim e sim!
Para ilustrar esse ponto de vista, selecionei 5 tendências para o canal alimentar nos anos 1990 que não se concretizaram. Vamos a eles:
1. Consolidação do setor supermercadista
Uma onda de aquisições feitas principalmente por Carrefour, GPA e Walmart assolou o setor no final dos anos 1990 e início dos 2000. Naquela época, o prognóstico era de que o varejo alimentar no Brasil se tornaria tão consolidado quanto o europeu.
Para se ter uma ideia, estatísticas disponíveis na internet apontam uma concentração média de 60% nas 4 maiores redes da Europa, variando conforme o país.
Em 2024, as três companhias brasileiras do varejo alimentar que atuam nacionalmente atingiram uma participação muito inferior. Carrefour, Assaí e GPA alcançaram juntas R$ 222,4 bilhões. Se considerarmos o faturamento de R$ 1 trilhão do setor, a fatia delas seria de apenas 22%.
É importante lembrar que, hoje, a 3ª e 4ª maiores empresas do varejo alimentar brasileiro são duas redes regionais: Grupo Mateus e Supermercados BH.
2. Domínio por empresas estrangeiras
Outra tendência daquela época, associada à primeira, era a de que varejistas de fora do País dominariam o setor, o que também não se concretizou. Ainda temos, é claro, a permanência, por exemplo, do Carrefour e do Cencosud, mas outras empresas internacionais saíram do Brasil, como Jerónimo Martins, Sonae e Ahold.
Sem contar casos emblemáticos como o do Walmart e, mais recentemente, o do Makro. O primeiro chegou ao país em 1995, prometendo chacoalhar o mercado, mas cometeu erros por não conhecer o hábito dos brasileiros.
O exemplo clássico foi vender taco de golfe nas lojas. Soma-se a isso o fato de o posicionamento de “Preço Baixo Todo Dia” não ter encontrado aderência entre os clientes daqui. Já o Makro demorou a adaptar seu modelo de negócios ao então crescente formato de atacarejo.
3. Expansão dos hipermercados
O modelo, sucesso desde a entrada do Carrefour no Brasil em 1975, simplesmente definhou da década de 1990 até agora. O acontecimento mais marcante foi o fim da bandeira Extra Hipermercado em outubro de 2021.
Diversos fatores levaram o hipermercado a perder tração, entre os quais a preferência do consumidor por formatos de loja menores e com maior apelo à conveniência, além do surgimento dos atacarejos como opção de preço baixo.
4. Guerra dos tabloides
A briga por preço naquele período se traduzia nos inúmeros encartes que abarrotavam as caixas de correio das casas dos consumidores, dando o tom da agressividade nas ofertas. Agora, o famoso jornal de ofertas em papel tem sido abolido da vida dos clientes e das estratégias do varejo e de seus fornecedores.
As estatísticas mostram que 41% das promoções não geram o retorno esperado, o que vem canalizando esforços para os aplicativos de CRM. Neles, cada oferta pode ser enviada diretamente ao cliente que realmente terá interesse por ela, elevando a conversão. Quando utilizada corretamente, a ferramenta contribui – e muito – para não agredir as margens.
5. Estratégia de marcas próprias
A questão está mais associada à lentidão no crescimento desses produtos do que com o fato de não ter dado certo. A demora em ser aceita pelo consumidor reside sobretudo no fato de as primeiras marcas próprias terem focado apenas preço baixo e deixado de lado o atributo qualidade.
Entretanto, quando têm por trás uma estratégia de marca e o cuidado com um bom posicionamento, elas agregam valor ao sortimento e trazem resultados positivos. Afinal, tendem a ser uma arma eficiente de diferenciação e fidelização. Além disso, a lucratividade gerada é um aspecto relevante para o varejo alimentar.
No GPA, que atua com o conceito de marca exclusiva, as linhas próprias da empresa já alcançam uma participação de 25,3% em suas lojas em todo o País.
Notícias relacionadas

8 em cada 10 marcas já utilizam o marketing de influência para impulsionar as vendas

Dependência de hipermercados mantém pressão sobre estratégia do Carrefour

Quando o “Morango do Amor” vira estratégia: o que tendências virais ensinam ao varejo alimentar

Conveniência incentiva missões de abastecimento no pequeno varejo e e-commerce
Alessandra Morita
Head de Conteúdo