Quem é o melhor: GPA ou Carrefour?
POR Reportagem SA+ Conteúdo
EM 08/08/2018
Para responder à pergunta do título desta reportagem, basta consultar o balanço trimestral publicado por Carrefour e GPA, correto? Não é tão simples. Em primeiro lugar, o lucro líquido reportado por elas não é necessariamente comparável. “Esse indicador do Carrefour inclui a operação financeira, que não existe no GPA”, explica Gustavo Oliveira, analista do banco de investimento UBS. Segundo ele, o ideal é comparar o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das operações de varejo e cash & carry, analisando os fatores que compõem esse indicador (vendas e custos). “Com base neles, avaliamos que o momento do GPA é ligeiramente melhor do que o do Carrefour”, diz o analista. A avaliação do especialista se pauta principalmente pelo ritmo mais acelerado de aumento de vendas do GPA no segmento alimentar, que foi de 2,8% nominal no 1º trimestre e de 5,1% no 2º. Já as do concorrente ficaram em 0,4% e 3,4%, respectivamente. “O aumento da receita é um fator decisivo para a lucratividade, sobretudo quando os preços dos alimentos ainda não se recuperaram”, diz. Ele ressalta que, nesse cenário, é difícil elevar o faturamento. Se a empresa consegue, como fez o GPA, indica que é capaz de enfrentar momentos adversos, além de demonstrar boa perspectiva de resultados para o futuro.
Alimentar
As vantagens de cada rede nos diferentes indicadores
Carrefour apresenta, no segmento alimentar, ebitda maior por ter mais lojas de atacarejo. mas a perspectiva para o GPA é melhor, pois as vendas aceleram desde o início do ano
Operação de supermerecados consolidada
Já nos formatos de super e hipermercados, o GPA tem ebitda 122% maior em valor e 1,7 pp em margem (dados do 2º tri). Entre os motivos, está o fato de contar com um supermercado voltado à classe A, que trabalha com produtos de maior valor agregado e lucratividade. Outro fator, aponta Oliveira, do UBS, são as novas dinâmicas promocionais, que impactam menos o preço e a rentabilidade, como o aplicativo Meu Desconto e o Meus Prêmios, no qual o cliente tem metas de compra em valor. Ao cumpri-las, ele é contemplado com ofertas em produtos e serviços, dentro e fora das lojas da empresa. “Além disso, a ação anterior – 1,2,3 passos da economia – incluía produtos que não atraíam o consumidor. Nesse aspecto, as atuais são mais interessantes”, avalia. Confirma abaixo os resultados do segmento:
Super e hiper
Ebitda 122% maior dá vantagem ao GPA
Operação mais robusta de supermercados e presença de uma bandeira voltada ao público A e B explicam superioridade do Grupo Pão de Açúcar nesses formatos
Peso do cash & carry
Apesar disso, o Carrefour conseguiu uma vantagem sobre seu concorrente tanto no ebitda em valor quanto na chamada margem ebitda (quando o indicador é medido como percentual sobre a receita líquida) no segmento alimentar. A companhia alcançou R$ 754 milhões no primeiro caso, o que correspondeu a uma margem ebitda de 6,1%. Já o GPA atingiu R$ 679 milhões e 5,8%, ambos no 2º trimestre. Oliveira explica que isso ocorre devido à grande representatividade do cash & carry – formato que gera alto volume de vendas – nos negócios do Carrefour. O atacarejo responde por 65% dos negócios da empresa, e está acima dos cerca de 45% registrados pelo GPA no segmento. Para se ter uma ideia, quando se observam apenas os indicadores de ebitda dessa operação, o Carrefour está 85% acima do GPA em valor e 1,1 ponto percentual (pp) em margem. “Apesar de estar à frente no cash & carry, o Carrefour precisa ficar atento. O Assaí vem ampliando o número de lojas e elevando as vendas de maneira acelerada com as conversões de hipermercados”, alerta Leonardo Marques, especialista em cadeia alimentar do Coppead/ UFRJ. Em resposta ao avanço da concorrência, que cresce também pela entrada dos regionais nesse negócio, o Carrefour anunciou a abertura de 20 unidades de atacarejo neste ano.
Atacarejo
Ebitda 85% superior
Coloca carrefour à frente
O grupo francês conta com uma operação de cash & carry maior, que representa 65% de suas vendas. No concorrente, a participação do segmento é de cerca de 45%
Pelo lado dos custos, que também compõem o ebitda, há oportunidades. “Essas companhias estão num nível interessante de despesas operacionais, mas ainda podem reduzi-las em torno de 1 pp, com melhorias logísticas”, avalia Oliveira, do UBS. Para ele, as diferenças entre as duas empresas são bastante sutis, o que exige acompanhamento de perto da evolução dos indicadores de lucro. Afinal, são duas empresas bastante competitivas entre si e no mercado varejista como um todo.