Quais os impactos da paralisação da Vale na economia?
POR Reportagem SA+ Conteúdo
EM 14/02/2019
Nova Lima, Rio Acima, Ouro Preto, Barão de Cocais, Belo Vale, Itabirito, Congonhas e Brumadinho são cidades com barragens que deverão ser desativadas pela Vale nos próximos três anos, podendo impactar negativamente em toda a atividade econômica dessas cidades e entorno. Prefeitos acreditam que a medida, anunciada pela mineradora depois da tragédia de Brumadinho, poderá causar o fechamento de milhares de postos de trabalho, diretos e indiretos.
Apesar dos prognósticos desafiadores, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) não projeta queda nas vendas por conta da paralisação das atividades da Vale. “A empresa anunciou que não haverá corte no emprego, por isso fizemos nossa projeção com a vinculação da renda do trabalhador da mineradora”, afirma Antônio Claret Nametala, superintendente da Amis. A Associação mantém a projeção de crescimento de 4% este ano ante 2018.
Menos otimista, um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) calcula uma retração de até 1,8% nas riquezas do Estado com a paralisação temporária das atividades nos locais com barragens. De acordo com a Federação, a indústria extrativa é responsável por 2,1% do PIB mineiro, mas exerce grande influência na sua cadeia produtiva. Pelos cálculos, a cada R$ 100 milhões a menos de receita do setor extrativo mineiro, há perdas adicionais de R$ 25 milhões em outros segmentos.
Consultor de Relações Institucionais da Associação de Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig), Waldir Salvador afirma que a associação não tem um estudo de impacto que essas medidas causariam, pois desconhece oficialmente o plano de ação da mineradora. “Por conta disso, estamos tratando o assunto como hipótese. Ainda assim, consideramos inaceitável a falta de diálogo da Vale com os municípios que se estabeleceram em função e para a mineração”, afirma.
Segundo Salvador, os municípios também querem que as barragens construídas no modelo a montante parem de funcionar e sejam substituídas por um modelo mais moderno, capaz de evitar tragédias como a de Mariana e Brumadinho. Ele alerta, entretanto, sobre a necessidade de a Vale apresentar um plano de continuidade de operação. “A hipotética suspensão temporária das atividades de mineração provoca sérios danos na economia dos municípios onde há uma dependência muito grande da atividade minerária”, afirma Salvador.
Além do minério
O impacto das mineradoras na economia vai muito além da atividade fim: passa desde o estímulo ao planejamento das cidades, expansão de receitas até a geração de emprego e elevação dos salários. Além disso, há ainda o pagamento da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), os royalties da mineração. Eles são pagos obrigatoriamente pelas mineradoras pela exploração às cidades minerárias e também às cidades impactadas. Segundo a Amig, foram recolhidos cerca de R$ 1,3 bilhão com royalties no ano passado, apenas em Minas Gerais.
Espírito Santo também pode ser afetado
Na tarde desta quarta-feira, 13/02, a Vale assinou um acordo com a prefeitura de Vitória (ES) que permitiu a volta de operação da mineradora no complexo portuário de Tubarão, após apresentar garantias de que resolveu o problema de emissão de poluentes no mar, informou o município por meio de nota.
A prefeitura havia interditado parte do sistema de tratamento de efluentes da Unidade Tubarão, na quinta-feira, 7/2, além de multar a Vale em R$ 35 milhões de reais devido à emissão de poluentes, o que impactou as atividades de pelotização da companhia no local. Coincidência ou não, o presidente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), João Tarcicio Falqueto, acreditava que a paralisação seria passageira, evitando uma queda nas vendas do Estado.
Apesar do otimismo, Falqueto reconhece o impacto negativo que a medida pode ter no Estado se voltar a ocorrer. “A Vale emprega pelo menos 11,5 mil trabalhadores na Grande Vitória, entre empregados e prestadores de serviços. Paralisar as operações afetaria essas pessoas e todos que convivem diretamente com eles. Mesmo que os salários sejam mantidos, a incerteza diminui a confiança, e isso pode ter reflexo no consumo”, diz.
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