3 especialistas contam por que é urgente adotar uma cultura de inovação

Fernando Salles - redacao@savarejo.com.br -

Depois de conferir o que eles têm a dizer, sua empresa vai mudar da água para o vinho. E tudo o que você precisa fazer é arregaçar as mangas e começar

Aqui começa seu processo de mudança
Neste mês, estamos iniciando uma série de reportagens que vai mostrar como o varejo pode inovar em soluções para problemas e situações que emperram seu crescimento sustentável e na construção de bases sólidas para o futuro do negócio, adotando novas tecnologias, métodos e atitudes. Começamos trazendo um guia prático para ajudá-lo a inovar, além de uma discussão importantíssima: a execução do JBP (Joint Business Plan) ou plano comercial anual

 

Uma das principais fontes de competitividade hoje é a inovação. Ela pode melhorar produtividade, eficiência e rentabilidade, além de garantir a perenidade do varejo. “Em uma comparação entre Walmart e Amazon, na maioria dos indicadores financeiros o Walmart leva vantagem”, lembra Jorge Inafuco, sócio-diretor do Oasislab Innovation Space . Mas é a Amazon quem já superou a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, feito que, além dela, somente a Apple alcançou até agora. “Na visão do mercado, a inovação que a Amazon traz deve ser um padrão que pode se tornar dominante no futuro. Ao passo que o Walmart, mesmo já entregando valor, é visto como uma companhia cujo modelo pode perder espaço nas próximas décadas”, explica Inafuco.

Pedimos a três especialistas para sugerir maneiras de tornar sua empresa mais inovadora e, com isso, melhorar o desempenho. Confira:

Paulo Sérgio da Silva

Fundador da Rock On Advisors , consultoria especializada em digital, ex-CEO do Walmart.com no Brasil, acumula mais de 25 anos na área de tecnologia 

Como acertar ao inovar

É sempre importante entender o ambiente em que estamos inseridos, observar como as pessoas se comportam, conhecer as aspirações do consumidor. Atualmente um ativo muito importante é o tempo. Os clientes querem comodidade. Melhorar a relação com o consumidor deve estar no foco.

O que gera inovação

A ferramenta para inovação é a boa ideia. Profissionais de todas as áreas da empresa devem ter em mente que a inovação pode vir deles. Não precisa ser disruptiva, mudar todo o rumo. Pode ser, por exemplo, a melhoria de um processo. Muitas vezes a inovação está ao lado, no próprio ambiente em que o funcionário atua todos os dias. Captar é 50% do processo, implantar é a outra metade desse trabalho.

Onde se inspirar

O Brasil olhou muito para o Vale do Silício e pouco para a China. Por lá o varejo andou numa velocidade muito rápida. Há bons exemplos em padrão de lojas, na conexão com fornecedores, meios de pagamento, redução do tempo na fila, utilização de dados.

 

Romeo Deon Busarello

Diretor de marketing e ambientes digitais da Tecnisa e professor de inovação e marketing nas faculdades ESPM e Insper 

Como ser inovador

Tenho apenas uma dica para as empresas que desejam ser inovadoras: comecem. Esse trabalho tem início, não tem meio e também não tem fim. Não existe “bala de prata”; inovação envolve um montão de pequenas coisas, como definir um novo layout de loja, contar com ambientes de trabalho informais, valorizar verdadeiramente a diversidade, aceitar novos meios de pagamento, a exemplo de Apple Pay e bitcoin, entre tantas outras iniciativas que, somadas, criam um ambiente onde a inovação acontece.

Nem toda inovação é tecnológica

Muitas inovações envolvem tecnologia, mas isso não é uma regra. Quer um exemplo? Na década de 1980, a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns disseminou, de forma inovadora, o uso do soro caseiro e, com uma fórmula simples que combinava medidas de água, sal e açúcar, milhares de crianças foram salvas da morte por desidratação.

Agenda do século 21

Ainda há empresas que adotam um discurso de inovação, porém fazem pouco na prática. Para esse cenário mudar, é importante ter nas equipes pessoas plugadas na agenda do século 21. Um erro a ser evitado é o de tentar trilhar caminhos novos utilizando mapas antigos. 

 

Jorge Inafuco

Sócio-diretor do OasisLab Innovation Space , hub de inovação especializado em varejo

Mudanças são rápidas

A última campanha eleitoral, em que o tempo de televisão não teve nenhum impacto no resultado, mostrou a importância de conseguir se comunicar diretamente com as pessoas, e essa transformação não aconteceu gradativamente, mas de forma avassaladora. O consumidor também está aberto à inovação, e uma dessas ondas, no mercado de consumo, pode ser muito negativa aos negócios de quem não se preparou. É importante realizar um diagnóstico do potencial da inovação. Isso permitirá identificar onde a inovação é mais urgente e onde a empresa vai ter maior retorno

Nova cultura

Inovação está dentro da discussão da transformação digital no varejo. Mas antes disso vem uma transformação cultural. É fundamental sensibilizar os fundadores, diretores, toda a alta administração para ser incentivadora dessa nova forma de pensar os negócios. Muitas redes já têm, participando das decisões, a segunda ou a terceira geração, com pessoas que estão abertas à tecnologia por terem contato com ela há muito tempo. Para a inovação, essa diferença de gerações é oportunidade.

Rotina colaborativa

A inovação acontece nos problemas, à base de diálogo para encontrar soluções. Uma boa ideia em tecnologia pode vir de um comprador que viu um modelo interessante em um fornecedor. Inovação não é uma tarefa solitária.

Oportunidade de lucrar

Certamente inovação pode ajudar o setor a melhorar a lucratividade. Isso depende de identificar os principais problemas, as principais dores, e empreender esforços específicos para resolvê-los com inovação. Se a lucratividade é resultado de vendas obtidas e custos e despesas pagos, um caminho é identificar o que causa maior impacto em cada item e aplicar ações inovadoras.