Consumo de proteína vai crescer e se tornar mais complexo de atender

ALESSANDRA MORITA, DE NOVA YORK (EUA) E BROOKS (CANADÁ)* -

Estimativa é de alta de 70% até 2050 e vai exigir que varejo e fornecedores se adaptem

Suína, bovina, ovina, de frango ou proveniente de ovos. Não importa o tipo. Até 2050 a demanda global por proteínas aumentará 70%, segundo dado do World Resources Institute . Nesse período, a população mundial crescerá em cerca de 2,8 bilhões, alcançando algo em torno de 9,7 bilhões de pessoas.

Embora já seja um desafio e tanto, produzir alimentos para um número gigantesco de pessoas não é a única complexidade desse cenário. Além da necessidade básica da alimentação em si, é fato que o mercado de consumo tende a se tornar mais complexo diante de mudanças de hábitos que nascem a partir de novos estilos de vida, valores, necessidades e desejos. Tudo isso influenciado por um mundo digital e conectado que elimina barreiras como a distância e dissemina informações a uma velocidade estonteante.

É nesse cenário repleto de peculiaridades que o varejo terá de oferecer um sortimento mais customizado e contar com mecanismos que mexam diretamente com os sentidos e sensações do cliente, agucem o paladar e ampliem a experiência de compra. Boa parte desse trabalho também está nas mãos dos fornecedores desse segmento, que têm o desafio de desenvolver produtos que atendam às novas expectativas do público, o que requer investimentos em tecnologia e em conhecer os hábitos de consumo.

Uma das indústrias que vêm se preparando para esse mercado de crescente complexidade é a JBS . Maior produtora de proteína do mundo e segunda de alimentos, a empresa conta com uma plataforma global de produção diversificada em produtos e também geograficamente. “Temos ainda um trabalho grande em inovação focado em pessoas, processos e em investimentos que fizemos em um centro de inovação, inaugurado neste ano nos EUA”, afirmou Gilberto Tomazoni, CEO Global da companhia, em entrevista a jornalistas brasileiros após o JBS Day, que aconteceu em setembro em Nova York.

Segundo o executivo, o foco das inovações serão produtos de maior valor agregado . No Brasil, por exemplo, a empresa entrou neste ano no segmento de plant based (proteínas vegetais), com o Incrível Burger, da Seara. “Não fizemos muito barulho sobre isso. Mas se o consumidor quer comprar, nós vamos participar desse nicho de mercado, cujo tamanho ainda não sabemos”, diz Tomazoni. O produto atende, sobretudo, os flexitarianos: pessoas que, mesmo sendo vegetarianas, ocasionalmente comem carne.

Já globalmente, um dos exemplos bem-sucedidos do portfólio da empresa é a Just Bare, linha orgânica de carne de frango da Pilgrim’s Pride, que pertence à companhia. A marca é a mais vendida do segmento na Amazon Fresh nos EUA. Não por acaso, a comunicação integra canais digitais e tradicionais. Uma das campanhas, “Who Makes Your Food”, que pode ser acessada, por exemplo, no Youtube, ressalta um dos atributos mais importantes para quem opta por alimentos naturais e saudáveis, que é conhecer a origem do produto.


Just Bare
Linha de carne de frango orgânica, atende pessoas que valorizam saúde e bem-estar, além da rastreabilidade e baixo impacto ambiental dos produtos

O desenvolvimento de categorias é prioridade também no segmento de bovinos. No Brasil, a exemplo de outras marcas da companhia, Friboi vem apostando em versões premium – com a 1953 e a Maturatta –, e superpremium, com a Swift Black. A estratégia passa ainda por parcerias com o varejo, por meio do Açougue Nota 10 e dos projetos de loja dentro da loja, com a marca Swift.

JBS EM NÚMEROS

191,9 bilhões de reais Receita líquida global da empresa
Últimos 12 meses finalizados no 2º Tri 2019

15 países em que a companhia tem operações

400 unidades de produção Inclui também fábricas de ração, incubatórios, entre outros

12,5 milhões de dólares Investimento no Centro Global de Inovação, parceria com a Universidade do Estado do Colorado

 

Fonte: Apresentação JBS Day


AO REDOR DO MUNDO POR DENTRO DA OPERAÇÃO CANADENSE

A JBS conta com cerca de 400 unidades em mais de 15 países. Uma das mais interessantes é a operação do Canadá. Com capacidade de abate de 4,2 mil bovinos por dia, a planta não é a maior – esse posto cabe às de Grand Island e Greeley (EUA), com possibilidade de mais de 5 mil animais/dia cada uma –, mas tem as suas particularidades. A que mais se destaca é, sem dúvida, a diversidade.

IMIGRAÇÃO
A unidade está localizada em Brooks, na província de Alberta. Com 14.451 habitantes, é conhecida como a cidade dos 100 Hellos em função das mais de 100 línguas faladas, o que é um reflexo da quantidade de imigrantes na região.

NACIONALIDADES
Ao todo, são 2.600 colaboradores na planta. Entre eles, há 120 nacionalidades representadas e 66 línguas. O governo canadense permite que 10% da mão de obra seja “importada”.

BRASILEIROS
Cerca de 40 profissionais do Brasil trabalham na unidade. Um deles é Célio Henrique Fritche, gerente-geral da planta. Ele começou na JBS em Mato Grosso em 2002. Seis anos depois foi transferido para Greeley, no Colorado (EUA), onde nasceu seu casal de filhos, e, há quatro anos, está no Canadá.

INCENTIVO
Boa parte dos brasileiros que trabalham na fábrica participa do programa JBS Sem Fronteiras, uma espécie de intercâmbio para desossadores e faqueiros. É destinado a profissionais com mais de um ano de empresa, que recebem suporte no processo de imigração e um pacote de benefícios que inclui, por exemplo, moradia e aulas de inglês – algo importante, pois, para permanecer no país, é preciso prestar uma prova do governo canadense, com exigência de nota mínima em diversos quesitos.

EMPENHO
O baiano Alex Batista Santos é um dos brasileiros que participaram do JBS Sem Fronteiras. Determinado a evoluir na empresa, se candidatou ao programa logo que completou um ano de casa. Ele conta que pesquisou sobre o Canadá e, ao saber da rigorosidade das temperaturas no inverno, entrou numa câmara frigorífica para sentir como era o frio que encontraria no país. Em Brooks desde 2016, já conseguiu levar a família para o Canadá.

O MERCADO NO CANADÁ: PERFIL DE VENDAS E VAREJO

As carnes mais básicas ainda representam o maior volume de vendas da JBS no país, porém as que mais crescem são as premium, como a Northern Gold e a Diamond Black Angus.

58% da produção no Canadá é destinada ao mercado interno

36% é o market share da empresa. Principais clientes do varejo são: Costco , Save on Foods e Calgary co-op

90% do que os varejistas (em geral) compram são itens já fatiados e embalados, sendo que para:

  • Costco são fornecidos produtos específicos
  • Calgary Co-op itens de marca própria


*A jornalista viajou a convite da JBS