Com medo de perder talentos, empresas freiam investimentos em capacitação

Reportagem SA+ -

Muitas companhias estão preferindo "roubar" funcionários de concorrentes em vez de capacitar suas equipes. Essa prática, no entanto, traz riscos

Em todo o mundo, os investimentos em treinamento cresceram apenas 1,2% em 2018, enquanto o PIB global avançou quase o triplo: 3,3%. Muitos executivos têm a explicação na ponta da língua: não querem preparar colaboradores para serem "roubados" por concorrentes. No entanto, acabam concordando em adotar a mesma prática, trazendo profissionais do mercado nos momentos em que necessitam reforçar suas equipes. Prova disso é que o mercado global de recrutamento segue aquecido: avançou 6% no ano passado, após ter crescido 9% em 2017.  

Na avaliação de Claudio Garcia, vice-presidente executivo de estratégia e desenvolvimento corporativo da consultoria internacional  LHH , agir dessa forma tem custo alto para as empresas e até mesmo para a sociedade. "Ao brincarem de 'rouba-monte', organizações inflacionam os salários e aumentam a rotatividade de profissionais, o que se reflete em crescimento de custos indiretos relacionados à produtividade dos times, atraso de projetos, custos de recrutamento, entre outros", destaca.

Dentro desse contexto, explica Garcia, na tentativa de manter as margens, as companhias acabam reduzindo salários de posições menos críticas por meio de terceirizações e reestruturações. O vice-presidente da consultoria de desenvolvimento e transição de carreira LHH cita como exemplo o que tem ocorrido no Vale do Silício, onde 10% dos profissionais no topo da cadeia recebem os salários mais altos do mundo, ao mesmo tempo em que os profissionais de renda média tiveram queda real de 15% nos seus ganhos nos últimos 20 anos. No fim da linha, não capacitar seus próprios colaboradores ou sequer incentivá-los nessa prática acaba por elevar a desigualdade social.

Iniciativa dos funcionários

Com as empresas investindo menos em treinamento, cabe aos profissionais buscar ampliar suas capacidades por conta própria. Uma pesquisa da consultoria Boston Consulting Group mostra que 62% se consideram responsáveis pela própria capacitação, no entanto 63% ainda esperam que empresas ou governos façam esse investimento. Um ponto crítico é que 67% dos entrevistados reconhecem que seu trabalho irá mudar nos próximos cinco anos, mesmo assim apenas 32% demonstram qualquer preocupação com esse fato.

Fonte: Valor Econômico