Seu modelo de entrega pode não servir mais

Rafael Faustino - redacao@savarejo.com.br -

Se você está ou quer entrar no e-commerce, fique atento. Necessidade de ser mais ágil, aliado ao avanço tecnológico, têm feito varejistas buscarem parcerias bem diferentes

Se você trabalha com comércio eletrônico ou avalia na venda online, saiba que é preciso pensar na velocidade das entregas. É isso mesmo. O avanço tecnológico e o imediatismo das novas gerações estão tornando obsoletas as compras com longos prazos de entrega e pesadas taxas de serviço. E, admitam ou não os outros varejistas, a Amazon – sempre ela – pressiona a todos com seu negócio de entregas rápidas, que inclui cada vez mais categorias de produtos.

A boa notícia é que há modelos viáveis se apresentando para competir nesse novo cenário, e eles dispensam a necessidade de muitas contratações ou de investimentos em grandes operações logísticas. O que muitos varejistas estão fazendo em mercados mais desenvolvidos, como mostra um artigo do Business Insider , é firmar parcerias com startups que os ligam a entregadores via aplicativos de smartphones. E é isso é uma boa saída para varejistas de qualquer segmento

A Uber, por exemplo, aproveitou seu negócio com milhões de motoristas no mundo todo para lançar o Ubereats, serviço de entrega de refeições que substitui o delivery tradicional de vários restaurantes. Mais recentemente, o Rappi passou a fazer grande sucesso no Brasil, entregando não só comida, mas também produtos de farmácias e supermercados. Criado na Colômbia e expandindo rapidamente pela América Latina desde o ano passado, o aplicativo recebeu aportes de mais de US$ 185 milhões de fundos de investimento recentemente. 

As entregas pulverizadas têm seu grande apelo na praticidade levada ao varejista e também ao consumidor. Para o lojista, basta separar os produtos e esperar pelo motorista - o que pode ser mais trabalhoso no caso de supermercados, mas ainda assim é mais simples do que operar toda a entrega e correr o risco de gastar mais de uma viagem caso o cliente não esteja em casa. E, para quem compra, o que pode ser melhor do que não sofrer com o maior problema das aquisições via internet – o tempo de espera para receber o produto?

Essas empresas oferecem recursos importantes para o consumidor, como a possibilidade de agendar entregas e de verificar, em tempo real, onde está o motorista com seu produto. Eles ainda podem optar por receber avisos em SMS e notificações no celular em cada fase do processo. Além disso, a logística tende a ser inteligente, explica o Business Insider. A tecnologia das empresas de entregas busca sempre equacionar a menor distância possível para a viagem do entregador: ele estar no mesmo bairro em que ficam a loja e a casa do cliente final é o melhor cenário possível. Assim, evita-se atrasos por trânsito intenso ou difícil acesso a áreas mais afastadas, por exemplo.

Operação e desafios

Claro que, se fosse tudo simples e perfeito, todos os problemas das entregas estariam resolvidos. A realidade não é assim, e apresenta dificuldades inerentes a um novo modelo de negócio. A oferta de motoristas ainda é pequena e, como os profissionais que fazem a entrega são, a rigor, liberais, geralmente precisam trabalhar para diversas empresas ao mesmo tempo para compor sua renda. Com isso, há a possibilidade de, em alguns momentos, não haver entregador disponível em determinada área. 

Além disso, há o custo por entrega, envolvendo startup e entregador, que tende a ser elevado - nos Estados Unidos, por exemplo, o Ubereats cobra das empresas 30% do valor do pedido entregue e não permite que os restaurantes aumentem o valor dos pratos apenas para o seu serviço. E há também um fator de reputação, uma vez que se entrega o serviço de delivery da sua empresa a um desconhecido. Nos primeiros meses de operação, o serviço de entregas da Uber e os restaurantes parceiros sofreram com uma chuva de críticas a respeito de pedidos que nunca eram entregues ou chegavam em péssimas condições. 

Mas é fato que, se essas empresas crescem rapidamente, é porque atendem a uma necessidade real. E os millennials, geração dos jovens adultos de hoje em dia, priorizam cada vez mais receber suas encomendas no mesmo dia da compra, aponta o Business Insider, que fornece relatórios de mercado e consultoria a grandes empresas. 

Evolução do mercado

Essa necessidade não se restringe a alimentos ou itens de consumo rápido. O Rappi está entregando também produtos temáticos de futebol, artigos de beleza da Sephora, itens de petshop e papelaria, apenas para citar alguns exemplos. Nos Estados Unidos, a startup Deliv faz entregas instantâneas para os clientes do Walmart e da loja de departamentos Macy’s, sejam roupas, cosméticos ou outros produtos.

O crescimento dessas empresas é evidente. O Ubereats já é maior que o serviço tradicional da Uber em várias cidades europeias e norte-americanas. A Deliv expandiu seu serviço recentemente nos Estados Unidos, abrindo uma unidade especializada em medicina, entregando remédios, raios-x e receitas médicas, por exemplo, para médicos, pacientes e laboratórios. 

Já a holding alemã de entregas Delivery Hero registrou receita de 544 milhões de euros em 2017, crescendo mais de 60% sobre o ano anterior. No Brasil, o serviço Pedidos Já contribuiu para o bom desempenho da empresa e chamou a atenção da concorrência: com uma base de cerca de 15 mil restaurantes no Brasil, o Pedidos Já foi comprado no início de agosto pelo Ifood, que tem como principal acionista a desenvolvedora de aplicativos Movile, companhia cujo valor de mercado está em quase US$ 1 bilhão.  

Futuro das Entregas

Para o futuro, é possível que esse gigantesco mercado que é o serviço de entregas seja ainda mais disruptivo. O relatório do Business Insider aponta a tendência dessas startups apostarem em modos inovadores de entregar produtos, como com a utilização de drones ou de carros autônomos. Uma realidade distante, ainda mais para o varejo brasileiro, mas que evidencia o problema enfrentado por todo varejista com a questão logística.