Saiba qual perfil de gestor derruba a produtividade

Reportagem SA+ -

Comportamento e modelos de gestão influenciam diretamente os baixos índices produtivos no País

Não é novidade que a produtividade do trabalhador brasileiro é baixa em comparação com europeus, norte-americanos e asiáticos. E os motivos estão mais relacionados a fatores culturais do que aos problemas na educação formal da população. A constatação é do estudo "Confiança e Produtividade no Brasil", realizado por Carmen Migueles e Marco Tulio Zanini, professores da Ebape/FGV e da Fundação Dom Cabral.

Um desses fatores culturais é a falta de confiança, algo que, na estrutura das empresas brasileiras, cria um enorme distanciamento entre quem ocupa altos cargos hierárquicos com responsabilidade de planejar ações e as equipes operacionais que irão executá-las. Gestores desconfiados e controladores não costumam dividir metas nem acreditar no potencial das pessoas. O resultado disso é uma gestão marcada por controles excessivos, o que torna as equipes improdutivas e pouco inovadoras.

Os professores Carmen Migueles e Marco Tulio Zanini, que também são sócios na consultoria Symbállein , estudaram por 16 anos 40 empresas de grande e médio porte. Nesse período, aplicaram 1.620 questionários, o que hoje representa a maior base de dados do mundo sobre  confiança nas empresas privadas. Foi a primeira vez que estudiosos conseguiram isolar aspectos culturais que influenciam a capacidade de as empresas elevarem sua produtividade. 

Na conclusão dos autores da pesquisa, há na cultura brasileira "passivos organizacionais" que consomem tempo, derrubam a produtividade e ocasionam perda de competitividade. Além da distância entre o poder e a base e a baixa confiança nas pessoas, outros passivos identificados são: foco demais no curto prazo e pouco disciplina pessoal.

"O modelo de gestão nas organizações brasileiras é extremamente reativo, porque existe um compromisso muito baixo com a execução do planejamento estratégico", afirma Carmen Migueles. "Com esses comportamentos, caímos em uma espiral viciosa de perda de produtividade que se reforça com o tempo e que não é mensurada, o que gera retrabalho ou a incapacidade de manter uma manutenção preventiva", completa a pesquisadora. 

O lado positivo é que, como a baixa produtividade brasileira tem relação com comportamento e modelos de gestão, as empresas podem agir para virar o jogo. De acordo com Carmen,  o impacto de nossa herança cultural pode, sim, ser neutralizado nas organizações.  Para que isso aconteça, segundo a pesquisadora, o caminho é exercitar a liderança compartilhada e manter a disciplina organizacional. Embora estudos mostrem que a confiança é maior em sociedades mais homogêneas e igualitárias, o que não é o caso do Brasil, existem maneiras de amentar cooperação interna nas empresas. "As companhias que conseguem isso dão um salto enorme de efetividade", afirma. 

 

Fonte: Valor Econômico